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Crítica: Tokyo!

tokyo_posterChegou às minhas mãos a oportunidade de assistir ao filme “Tokyo!” – e fica difícil escrever esta crítica sem ser em primeira pessoa, já que as interpretações possíveis são muitas. Portanto, encare esta crítica mais como uma análise reflexiva pessoal.

O filme é uma idealização de produtores japoneses que queriam fazer uma compilação de curtas que se passam na capital nipônica. No entanto, ao contrário dos filmes deste tipo, “Tokyo!” não se utiliza de diretores conterrâneos, e sim estrangeiros. Vamos a cada um dos filmes que compõem a produção e uma breve crítica de cada um deles.

tokyo_01Interior Design. A primeira narrativa, dirigida pelo francês Michel Gondry (Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças), começa como um drama e se torna um realismo fantástico. Nela, um casal se muda para Tóquio e vai viver com uma amiga da mocinha, Hiroko. Apesar da dificuldade em encontrar um lugar para viverem, tudo parece ir bem. No entanto, Hiroko começa a se sentir tão inútil que sofre algumas transformações. Baseado na HQ “Cecil and Jordan in New York”, de Gabrielle Bell, o filme sofreu apenas a modificação da cidade. Mesmo assim, a narrativa mostra detalhes interessantes da cidade e demonstra uma certa “coisificação” das pessoas.

tokyo_02Merde. Todos os filmes de “Tokyo!” tem um pouco de loucura, mas este é simplesmente insano. No curta, o diretor louco francês Leos Carax (Boy Meets Girl) mostra um homem que vive nos esgotos de Tóquio e sai vez ou outra para assustar as pessoas. O ator que interpreta Merda, o personagem-título, é Denis Lavant, parceiro do diretor em diversas produções, e que repete o personagem Merda no recente (e aclamado por muitos, odiado por outros) Holy Motors. O diretor consegue, neste curta, cuspir descaradamente na cara dos japoneses, criticar a sociedade e sua antiga união com os nazistas: Merda come as flores da família Imperial e dinheiro, símbolos que levaram o país a se unir a Hitler na Segunda Guerra, além de ser simbólico por sair das entranhas da cidade para incomodar a paz dos habitantes. O filme também retrata os japoneses com desdém, já que há homenagem aos “heróis de Nanquim” no esgoto, um sombrio ambiente para enforcar o condenado, e um âncora de jornal com ares de bobo – repare que só a mulher fala e dá opinião no noticiário da TV. No entanto, o filme se perde na própria loucura, e parece mais interessado em chocar o público que realmente mostrar a cidade.

tokyo_03Shaking Tokyo. Após duas histórias interessantes, mas que não homenageiam Tóquio merecidamente, eis que surge o belíssimo filme dirigido pelo coreano Joon-ho Bong (O Hospedeiro). Assim como brasileiros conhecem mais da Argentina que americanos, um coreano deve saber mais sobre Tóquio que dois franceses. Nesta última narrativa, conhecemos um homem que vive enclausurado em casa, vivendo às custas dos pais e comendo o que entregam em sua porta: é o famoso hikikomori, um tipo aparentemente comum na cidade. O hikikomori vive sozinho e não mantém contato visual com ninguém há dez anos, mas acaba se encantando pelas pernas da entregadora de pizza, com quem acaba tendo maior contato. Durante a narrativa recheada de realismo fantástico, vemos diversas referências à capital japonesa, como robôs, botões que ligam “androides”, e terremotos. Além disso, o diretor consegue transmitir sensações como o incômodo com o sol e a respiração ofegante de forma bem realizada, o que faz o espectador entender o que sente o personagem.

Quando se faz um filme sobre uma cidade, é necessário que se transforme a cidade em uma protagonista. Isso acontece em “Tokyo!”, mas de maneira mais forte em uns que outros dos curtas apresentados. Em “Shaking Tokyo”, vemos uma Tóquio que realmente participa da história, age e incide suas influências sobre os personagens. Além disso, todos os personagens refletem a cultura da cidade. Na primeira narrativa, Gondry consegue fazer de Tóquio uma personagem que transforma as pessoas em fantasmas, cuja “bagunça” permite que as pessoas se escondam em meio às paredes ou se tornem invisíveis. A fraqueza está no fato de que esta Tóquio não tem idiossincrasias, mas características que são encontradas em qualquer grande metrópole. Enquanto isso, o segundo curta não faz de Tóquio uma personagem, já que está muito mais preocupado em chocar o espectador japonês que mostrar um personagem – talvez, se fosse a cidade que expelisse Merda, em vez de ele sair por vontade própria, aí teríamos algo mais interessante: um “cocô” sendo feito pela própria cidade para que ela possa se autoflagelar… mas isso são divagações minhas.

Nota: 03 Claquetes

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