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Crítica: E aí… Comeu?

Pode-se presumir muito de um filme a partir do público que se apresenta para assisti-lo. Não é garantia de qualidade (ou da falta de), mas é algo que pode ser bastante curioso para se analisar.

Um grupo de jovens aparentemente saídos de um bar dá altas risadas. Um deles faz questão de soltar um grito, apenas para chamar a atenção quando as luzes da sala se apagam. Pode ser bom um filme que atrai este tipo de público?

Mas não generalizemos.

“E aí… Comeu?” começa com um close no rosto de um dos personagens principais: Honório (Marcos Palmeira) fala sobre mulheres e sua relação com elas. Em seguida, volta à mesa de bar, cenário que se repete o filme todo, para soltar ainda mais frases machistas ou sexuais, junto com seus amigos Fernando (Bruno Mazzeo) e Afonsinho (Emílio Orciollo Neto).

O filme se esforça em criar tipos diferentes a fim de causar identificação com o máximo possível de espectadores: Honório é casado e vive uma crise com sua esposa (Dira Paes), Fernando é recém-divorciado e não consegue se esquecer da ex, e Afonsinho é um escritor perdido que não consegue se apaixonar por nenhuma mulher, mas faz o tipo “pegador”.

Por ser uma comédia, o filme de Felipe Joffily deveria ter mais cenas engraçadas, mas limita-se ao humor de comparações e situações constrangedoras. Apesar de ser vendido como um filme “verdadeiro” sobre a mesa de bar e o amor (amor?), “E aí… Comeu” apresenta conversas inorgânicas e situações obviamente saídas de um palco de stand-up comedy – uma mulher, certo momento, sai da mesa do bar para voltar logo depois e apenas ver o que os homens conversam em sua ausência, para depois sumir da trama.

Os personagens masculinos são bem apresentados e desenvolvidos. Mas a “conclusão” a que o filme chega não condiz com o desenvolvimento das personagens femininas. Se o filme é uma homenagem às mulheres, com referências a Vinícius de Moraes e Tom Jobim, então por que as mulheres são unidimensionais? Apesar do esforço de Dira Paes, sua personagem é apenas uma mulher madura em crise, e as outras são ainda piores: a ex-mulher de Fernando fica confusa sem qualquer explicação; a vizinha ninfeta é apenas uma mocinha sensual; a prostituta de quem Afonsinho gosta não tem qualquer tridimensionalidade e apenas o trivial desejo de encontrar o homem dos sonhos rodando a bolsinha.

Como se não bastasse, as personagens femininas representam exatamente os clichês de mulheres dos sonhos de muitos homens “machões”: a jovem vizinha ninfeta oferecida, a prostituta que larga “aquela vida” por um cliente preferido, e a esposa sensual que deixa o marido ir para o bar quando quiser e não reclama.

Embora tente mostrar o crescimento e a redenção dos personagens, “E aí… Comeu?” falha ao limitar as conquistas dos três amigos a simplesmente responder à pergunta título: “Sim, eu comi”.

Devaneios à parte, o filme mereceria crédito se ao menos conseguisse fazer o espectador rir, já que estamos falando de uma comédia, afinal. Embora consiga chegar razoavelmente próximo das conversas de bar entre amigos e consiga criar alguns momentos cômicos – especialmente aqueles protagonizados por Seu Jorge, o melhor ator do elenco – o longa não consegue criar nenhuma piada que seja memorável ou que arranque gargalhadas. Fica devendo.

Nota: 02 Claquetes

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