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Crítica: Paraísos Artificiais

Quando um filme começa pelo que parece ser o fim, o espectador já compreende que a trama será contada por meio de flashbacks. “Paraísos Artificiais” é um filme que deixa isso muito claro desde o começo.

O filme começa com Nando (Luca Bianchi) saindo da prisão e sendo recebido pela mãe. Aos poucos, o espectador vai conhecendo o seu passado e como este se cruzou com o de Érika (Nathália Dill), uma DJ que busca divulgar seu trabalho. Entre muitas drogas e sexo, os jovens vão se encontrando e desencontrando. Aos poucos, e sem muita dificuldade, o espectador consegue ligar os três momentos da trama: um festival de música eletrônica no nordeste, o encontro de Nando e Érika em Amsterdam e a saída de Nando da prisão.

“Paraísos Artificiais” é um filme sobre a busca da juventude por um significado na vida, sobre a busca de refúgio e intensidade nas drogas, sobre o destino e sobre a morte. Os personagens principais são jovens que querem buscar algo melhor na vida, que amam e que querem viver intensamente os prazeres que o mundo lhes oferece – e isso é sintomático quando um personagem olha pela janela e diz que “um dia tudo isso vai acabar”, ou seja, o mundo (a juventude?) vai terminar e precisamos “curtir” enquanto ele (ela?) existe. Como típicos jovens de classe média, os personagens utilizam, inconsequentemente, drogas cada vez mais pesadas em busca de prazeres sempre mais intensos. Com uma trama que pressupõe o trabalho do “destino” para (re)conectar as pessoas, o filme de Marcos Prado tem a morte como principal fator de impulso no desenvolvimento e crescimento dos jovens. O acidente de carro exibido no início da projeção serve como um presságio para as mortes que serão mostradas ao longo do filme e que, apesar de não serem tantas, servirão para impulsionar mudanças nos personagens principais, para o bem ou para o mal.

É interessante notar que “Paraísos Artificiais”, como o próprio nome diz, mostra a maneira artificial que os jovens, cujas vidas muitas vezes são vazias, buscam na artificialidade uma maneira de lhe dar significado, mas é somente quando esta artificialidade se torna naturalidade que o significado surge. São jovens “riquinhos” que se dedicam às artes, mas que são capazes de qualquer coisa, inclusiva traficar drogas, para manter o padrão de vida.

Livia Bueno e Nathalia Dill

Com fotografia exuberante e cenários estonteantes, o filme parece ter sido focado na plasticidade. As sensações do corpo quando se usa drogas são mostradas de maneira plasticamente forte, e somando isso às cenas tórridas de sexo, o filme pode se transformar em um convite aos mais jovens para que experimentem tudo isso, o que deveria ter causado nos conservadores muito mais revolta do que a cena de sexo entre Érika e Lara (Lívia de Bueno) – que tirou muitos espectadores da sala. Mas o filme não pressupõe um público desinformado a ponto de se deixar levar pela beleza das imagens. Ele pressupõe um público tão instruído que nem se dá ao luxo de colocar legendas em uma cena gravada totalmente em inglês, mesmo que estas não sejam cruciais para seu entendimento.

“Paraísos Artificiais” é um projeto ousado que faz poesia com a juventude, mas vê uma saída para os problemas. Uma saída otimista – ou ingênua – demais, mas poética mesmo assim.

Nota: 03 claquetes

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