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Cinema Mundial

O cinema digital no Brasil

*também publicado no portal Itunotícias

Assim como a música, o cinema está se digitalizando. A produção cinematográfica (e de audiovisual como um todo) está cada vez mais democrática. Sem a película ou as câmeras pesadas, é cada vez mais fácil e barato produzir filmes, colocar tudo em um HD, editar e exibir. Mas isso todos sabemos. O que a maioria ainda não percebeu é que há uma grande dificuldade para as salas exibidoras se adaptarem a essa nova característica, que em breve se tornará regra absoluta.

A situação atual

No Brasil temos 2.349 salas de cinema, das quais apenas 240 possuem projetores digitais¹, o que corresponde a menos de 15% de todas as salas. Se os cinemas ainda analógicos não conseguirem se adaptar à nova realidade, correrão o risco de fechar as portas. Tudo isso pode ocorrer porque as distribuidoras passarão a enviar seus filmes por meio de cópias digitais, e não em formato de película, já que a transposição do digital para a película se torna cara, ainda mais quando apenas uma minoria das salas tiver projeção em forma de fitas.

Com a digitalização, os lançamentos de filmes serão realmente simultâneos, e não dependerão do transporte das fitas. Não só filmes, mas também jogos de futebol, peças de teatro e quantas outras produções puderem ser suportadas pela transmissão digital em salas de cinema. É o que o site Mobz faz: organiza sessões de óperas, jogos e apresentações de ballet em salas de cinema pelo Brasil.

Planos para o futuro

Estima-se que o mercado mundial de cinema terá somente salas digitais a partir de 2015. No Brasil, também se planeja ter 100% de salas digitais em quatro anos, mas infelizmente os fatores não conspiram para que isso ocorra: a adaptação das salas pode ter um custo muito alto e, caso não ocorra, pode resultar em uma tragédia na qual teremos muitas salas e nenhum filme compatível com elas.

Para que a tragédia não aconteça, é necessário entender o funcionamento do sistema VPF e a Medida Provisória 545/2011. Vamos a eles:

O sistema VPF significa “Virtual Print Free”, e corresponde ao método de financiamento dos projetores digitais que deu certo nos Estados Unidos. O método resulta na divisão dos custos de instalação de um projetor digital entre exibidores, distribuidores, fabricantes de projetores e fornecedores de softwares. No fim das contas, é como se o distribuidor pagasse à sala de cinema por terem escolhido seu produto. Isso se dá porque a opção pela cópia digital reduz os custos da distribuição. Se isso não fosse feito, as salas de cinema “pagariam o pato” e os distribuidores sairiam lucrando ainda mais, o que seria injusto no mercado².

A instalação de um sistema de projeção digital (com todos os equipamentos necessários) em uma sala de cinema custa cerca de 160 mil dólares nos Estados Unidos. No Brasil, o custo chega a ser 80% mais caro, graças aos nossos queridos impostos. A manutenção de um sistema digital de projeção salta dos 10 mil para 25 mil dólares ao ano, e a vida útil de um projetor digital é de 10 anos, contra os 30 anos de um projetor analógico.

É nesse âmbito que entra a Medida Provisória 545/2011. Assinada pela presidente Dilma Roussef em 29 de Setembro de 2011, a medida institui o “Programa Cinema Perto de Você”, da Ancine, cujo objetivo é ampliar e descentralizar o parque cinematográfico no país. Com esta medida provisória, os custos de implantação de uma sala de cinema seriam reduzidos em 30%, já que ela garante “linhas de crédito e investimento” e “medidas tributárias de estímulo à expansão e modernização do parque exibidor de cinema”. Para que isso aconteça, precisamos torcer para que esta medida provisória seja votada até Março.

 

¹Fonte: jornal O Estado de São Paulo, 7 de Dezembro de 2011, pág. D5

²Fonte: Portal Fime B

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